domingo, 25 de maio de 2008

Redescobrir o essencial

Ione Buyst


Afinal, por que celebramos? Para quem celebramos? A liturgia celebra uma aliança, um pacto. Trata-se, portanto, de uma relação entre pessoas. De um lado estamos nós, a comunidade reunida, de outro lado está... DEUS: o Pai, Jesus Cristo, o Espírito Santo. Às vezes nós nos comportamos como robôs e... o que é pior, às vezes reduzimos DEUS a uma representação imaginária ou a uma vaga idéia de algo acima de nós, algo incompreensível, mas que procuramos colocar a nosso serviço: quero emprego, quero saúde, quero dinheiro, quero isto e aquilo, quero..., quero... São tantos os desejos que projetamos neste ‘deus’, fabricado por nós para satisfazer nossas necessidades! Criamos um ‘deus’ à nossa imagem e semelhança... Enquanto isso, o DEUS verdadeiro nos escapa, porque não prestamos atenção nele, não o ouvimos, não procuramos conhecê-lo do jeito que se revelou ao longo da história.
Um passo decisivo na formação para a liturgia é: descobrir e encontrar-se com este DEUS, através de Jesus Cristo, no Espírito Santo! Conhecer este DEUS. Deixar-se ‘tocar’ por ele, deixar-se ‘impregnar’ por sua presença. Ouvir. Procurar compreender sua proposta, seu chamado. Aderir. Entrar em comunhão de vida com ele. Sem isso, não há liturgia de verdade; apenas simulação, um ‘fazer de conta’, um espetáculo, uma mentira...
Qual o caminho pedagógico que podemos seguir - individualmente, ou em grupos de estudo e meditação, ou nos encontros catequéticos - para nos aproximar de DEUS? Uma das muitas possibilidades é aprender dos encontros com Deus (revelação de Deus) relatados nas sagradas escrituras. Para citar apenas alguns: o encontro de Deus com Adão e Eva no jardim do Éden (Gn cap. 2 e 3); o encontro com Caim depois de ter matado seu irmão Abel (Gn 4); com Abraão em Mamré (Gn 18); com Jacó em Betel (Gn 28,10-22); a luta de Jacó com Deus (Gn 32,23-33); a revelação de Deus a Moisés na sarça ardente (Ex 3); o chamamento de Samuel (1Sm 3); Elias no monte Horeb (1Rs 19); a vocação de Isaías (Is 6); a anunciação a Maria (Lc 2,26-38); os inúmeros encontros com Jesus nos quatro evangelhos - por exemplo: profissão de fé de Pedro (Mt 16,13-20) e de Marta (Jo 11,17-27); o encontro de Jesus com o cego de Jericó (Mc 10,46-52); com a viúva de Naím (Lc 7,11-17); o encontro do Ressuscitado com Maria, com os discípulos, com Tomé (Jo 20); com Paulo no caminho de Damasco (Atos 9); a visão de João na Ilha de Patmos (Apocalipse, por exemplo o cap 4)... Com cada um destes relatos, podemos seguir os quatro passos da leitura orante (leitura, meditação, oração, contemplação): estudamos o texto em seu contexto, depois ‘entramos’ dentro do relato, com nossa própria realidade e procuramos nos situar diante deste Deus que se revela a nós por sua Palavra... Oramos, contemplamos. E assim nos preparamos melhor para o encontro com DEUS na liturgia.
Em cada celebração litúrgica este mesmo DEUS - Pai, Filho, Espírito Santo - marca encontro com seu povo, e se revela por sinais sensíveis, e nos transforma e nos associa a seu trabalho transformador no mundo, ‘para que todos tenham vida e a tenham em abundância’ (Jo 10,10), para que venha o seu Reino. Será que nos encontrará prontos/as para reconhecê-lo, para ouvir, para assumir nossa missão?
Agora pense:
1. Vou à missa para pedir que ‘Deus’ faça minhas vontades e satisfaça meus desejos? Ou estou pronto/a para me encontrar com o DEUS verdadeiro?
2. Quem é ‘Deus’ para mim? É o Deus que se revelou ao longo da história, e que se deu a conhecer em Jesus de Nazaré? O que estou fazendo para conhecê-lo melhor?
Matéria extraída:

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